Tragédia em Santa Maria

Bombeiro tinha procuração para encaminhar documentos da Kiss no Corpo de Bombeiros onde trabalhava

Lizie Antonello

No depoimento que abriu a audiência do processo da boate Kiss na Justiça Militar na tarde desta terça-feira, o tenente da reserva Clândio Silva Ribeiro disse que encaminhou, junto ao Corpo de Bombeiros, a documentação da Kiss para obtenção do seu primeiro alvará de prevenção de incêndio da casa noturna.

À época da abertura da danceteria, em 2009, ele tinha uma procuração da engenheira Josy Maria Gaspar Enderle, profissional que fez o projeto de Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da Kiss e de quem era companheiro, para representá-la no encaminhamento de documentações junto aos bombeiros.

Ao ser questionado pela juíza Viviane de Freitas Pereira sobre o fato de trabalhar para a empresa de Josy, a Marca Engenharia, mesmo sendo bombeiro, o que é proibido pela Brigada Militar, Ribeiro disse que apenas encaminhava a papelada nos bombeiros a pedido dela, mas que não tinha cargo de chefia na empresa. Ele disse que conviveu por cerca de 10 anos com a engenheira e que, eventualmente, fazia o serviço.

_ Ela pediu que eu fizesse o encaminhamento, e foi o que eu fiz da boate Kiss. Ela (Josy) fez a procuração, me deu e eu me dirigi aos bombeiros, peguei uma ficha e entreguei a documentação _ declarou à Justiça, ressaltando que não sabe quanto tempo os processos encaminhados por ele levavam para serem analisados e aprovados nos bombeiros.

A juíza também perguntou a ele por que as procurações eram feitas em papel timbrado dos bombeiros. Ele disse não saber.

O outro depoimento da tarde foi do sargento Jairo Bittencourt da Silva, ex-sócio da Hidramix, atual Hidrafer, que prestou serviços para a Kiss na área de prevenção de incêndios. Ele disse que entrou na sociedade a pedido do colega e amigo sargento Roberto Flávio da Silveira e Souza, que, à época, era sócio majoritário da empresa.

_ Ele me pediu e, pela relação de amizade que tinha com ele, assinei como sócio. Não entrei com capital nenhum _ disse o sargento Jairo, alegando que assinou o documento sem ler.

Segundo os integrantes do Conselho Especial que acompanham o processo, ao ter participação nas sociedades das empresas, os bombeiros cometeram uma transgressão disciplinar grave. Por este fato, eles podem responder processos disciplinares e até serem expulsos da corporação.

ENTENDA O CASO
_ Em 8 de junho de 2009, o então dono da Kiss, Alexandre Costa, emite uma procuração à engenheira Josy Maria Gaspar Enderle, que fez o Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da Kiss, para encaminhar o processo junto aos bombeiros
_ Em 26 de junho de 2009, a engenheira passa uma procuração ao então companheiro dela, bombeiro Clândio Silva Ribeiro, para que ele encaminhe a documentação da Kiss junto ao 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB), local onde ele trabalha
_ No mesmo dia, o bombeiro protocola os documentos na na Seção de Prevenção de Incêndios (SPI)
_ A procuração assinada por ele tinha validade de até 31 de dezembro de 2009, quando ele já estava na reserva. Porém, uma primeira procuração datada de 2008, quando ele ainda estava na ativa, dá ao bombeiro os mesmos poderes
_ As procurações são feitas em papéis timbrados dos bombeiros
_ Segundo as normas da Brigada Militar, os policiais militares têm dedicação exclusiva, ou seja, não podem exercer atividades paralelas
Fonte: processo na Justiça Militar

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